sábado, 14 de junho de 2008

Excertos de Guimarães Rosa















Ilustração de Djanira para Campo Geral

"O mineiro é velhíssimo. Tem a memória longa.Ele escorrega para cima. Só quer o essencial , não as cascas. Sempre freqüentado pelo enigma, retalha o enigma em pedacinhos ...Sempre assim foi. Ares e modos. Assim seja. Minas sem mar. Minas em mim."

"Minas é uma montanha, montanhas, o espaço erguido, a constante emergência , a verticalidade esconsa, o esforço estático: a suspensa região - que se escala ".

"Quando a gente dorme, vira de tudo: vira pedras, vira flor. O que sinto, e esforço em dizer ao senhor, repondo minhas lembranças, não consigo; por tanto é que refiro tudo nestas fantasias. Dormi nos ventos. Quando acordei, não cri: tudo o que é bonito é absurdo - Deus estável. Ouro e prata que Diadorim aparecia ali, a uns dois passos de mim, me vigiava. Sério, quieto, feito ele mesmo, só igual a ele mesmo nesta vida". (Grande Sertão: Veredas)

"Eu ando meio febril, repleto, com um enxame de personagens a pedirem pouso em papel. É coisa dura e já me assusta, antes de pôr o pé no caminho penoso, que já conheço".

"Mãe, que é que é o mar, mãe? Mar era longe, muito longe dali, espécie de lagoa enorme, um mundo d'água sem fim. Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. 'Pois mãe, então o mar é o que a gente tem saudade?' (Campo Geral)


"Às vezes, quase acredito que eu mesmo, João, seja um conto contado por mim."



Guimarães Rosa

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